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26 de Abril de 2024

Ebola: a omissão da indústria farmacêutica

O principal médico de saúde pública do Reino Unido culpa o fracasso em encontrar uma vacina contra o vírus do Ebola na “falência moral” da indústria farmacêutica em investir em uma doença porque ela, até agora, só afetou pessoas na África

Publicado por A. K.
há 10 anos

Por Jane Merrick, no The Independent | Tradução: Gabriela Leite

O principal médico de saúde pública do Reino Unido culpa o fracasso em encontrar uma vacina contra o vírus do Ebola na “falência moral” da indústria farmacêutica em investir em uma doença porque ela, até agora, só afetou pessoas na África — apesar das centenas de mortes.

O professor John Ashton, presidente do Instituto de Saúde Pública do Reino Unido, disse que o Ocidente precisa tratar o vírus mortal como se este estivesse dominando as partes mais ricas de Londres, e não “apenas” na Serra Leoa, Guiné e Libéria. Ao escrever no jornal The Independent, no domingo, o prof. Ashton compara a resposta internacional ao Ebola àquela que foi dada à Aids. Esta matou pessoas na África durante anos e os tratamentos só foram desenvolvidos quando a doença espalhou-se pelos EUA e Ingaterra, nos anos 1980.

Ashton escreve:

Em ambos os casos [Aids e Ebola], parece que o envolvimento de grupos minoritários menos poderosos contribuiu para a resposta tardia e o fracasso em mobilizar recursos médicos internacionais adequados (…) No caso da Aids, levou anos para que o financiamento de pesquisa adequada fosse posto em prática, e apenas quando os chamados grupos ‘inocentes’ se envolveram (mulheres e crianças, pacientes hemofílicos e homens heterossexuais) a mídia, os políticos, a comunidade científica e as instituições financiadoras levantaram-se e tomaram conhecimento.

O surto de Ebola já custou a vida de pelo menos 729 pessoas na Libéria, Guiné, Serra Leoa e Nigéria, de acordo com os números mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS). O número real é provavelmente muito maior.

Ontem, uma organização de ajuda norte-americana confirmou que dois agentes humanitários norte-americanos, que contraíram a doença na Libéria, deixaram o país. O dr. Kent Brantly passou a ser tratado em uma unidade de hospital especializado em Atlanta, no estado da Georgia, depois de se tornar a primeira pessoa com a doença a aterrissar em solo norte-americano, ontem à noite. A segunda trabalhadora, Nancy Writebol, precisou pousar em um voo privado separado.

Na sexta-feira, a Organização Mundial de Saúde alertou que o surto no oeste africano está “movendo-se mais rápido que nossos esforços para controlá-lo”. A diretora geral da organização, Margaret Chan, alertou que se a situação continuar a se deteriorar, as consequências serão “catastróficas” para a vida humana. O professor Ashton acredita que mais dinheiro deveria ser revertido para pesquisa por tratamento.

“Devemos responder a essa emergência como se estivesse acontecendo em Kensington, Chelsea and Westminster. Nós devemos também enfrentar o escândalo da falta de vontade da indústria farmacêutica em investir em pesquisa para tratamentos e vacinas, algo que se recusam a fazer porque o número de envolvidos é, em suas palavras, muito pequeno e não justifica o investimento. Essa é a falência moral do capitalismo, manifestando-se na ausência de um quadro moral e social.”

Os países do Ocidente estão em grande alerta após Patrick Sawyer, um funcionário do governo liberiano, morrer na última semana após chegar no aeroporto de Lagos — o primeiro caso conhecido na Nigéria. Hubs aéreos internacionais são foco de atenção por causa do alto volume de passageiros voando a partir do oeste da África ou para lá, todos os dias. A empresa aérea Emirataes, de Dubai, suspendeu, por tempo indeterminado, seus voos de Guiné, por conta da crise.

O professor John Ashton saudou decisão do Ministro de Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Philip Hammond, em convocar, na semana passada, uma reunião do comitê de crises do governo — o Cobra – para discutir a prevenção, no Reino Unido, contra casos de Ebola.

O desenvolvimento de uma vacina está nos primeiros estágios nos EUA, mas em pequena escala, e há pouca esperança de que alguma fique pronta para tratar o atual surto no oeste africano. Anthony Fauci, diretor do Insituto Nacional de Saúde, uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, disse que há planos de começar a testar uma vacina experimental conta o Ebola, possivelmente no meio de setembro. O ensaio vem obtendo resultados encorajadores nos testes pré-clínicos em macacos. No começo do mês passado, a Agência para Alimentação e Medicamentos norte-americana [FDA, Food and Drug Administration] convocou voluntários saudáveis para um teste realizado pela Corporação Farmaceutica Takmira, para certificar se o tratamento potencial de Ebola não traz efeitos colaterais. Esta em busca de informações para garantir a segurança de voluntários.

O professor Ashton disse: “O foco real precisa ser posto na pobreza e na devastação ambiental em que as epidemias prosperam, e no fracasso da liderança política e sistemas de saúde pública em responder efetivamente. A comunidade internacional deve envergonhar-se e procurar compromentimento real… se se deseja enfrentar as causas essenciais de doenças como Ebola.”


Fonte: http://www.geledes.org.br/ebola-omissao-da-industria-farmaceutica/

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8 Comentários

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Como em quase tudo que estudamos e contestamos as reais intenções dos seres humanos, a busca por uma vacina será quase que exclusivamente pela potencial lucratividade da mesma. É triste e doloroso saber que existem vidas que valem mais que outras, que uma doença que acomete há anos algumas localidades não é estudada porque atinge uma pequena parcela, a qual como redundância no meu texto não é capaz de gerar uma lucratividade considerável para mover a vontade dos grandes laboratórios. A contrario sensu quando este problema ameaça uma população dita "nobre" tenta-se fazer uma mudança midiática tão suja a ponto de torná-los "os grandes salvadores da humanidade". Triste. continuar lendo

Lembro que há muitos anos assisti uma reportagem, não lembro se no Globo Repórter ou no Fantástico, sobre um laboratório nos EUA onde eles estudavam e manuseavam cepas de vírus e bactérias letais (ebola, varíolas, antrax,...) que poderiam via a se tornar armas biológicas.

Hoje, com o recolhimento dos médicos estadunidenses da África para receberem doses de um remédio/vacina "experimental" nos EUA me faz pensar o quão na frente do mundo eles estão no sentido de se protegerem contra este tipo de infecção.

Vejamos: por que não levaram esta droga para ser ministrada nos pacientes ianques lá na África (logística muito mais fácil e barata que levar os pacientes ao tratamento)? Se a taxa atual de mortalidade dos infectados é de 52%, por que não disponibilizar este remédio, ainda que experimental, para os africanos infectados e aumentar um pouco suas chances de sobrevivência (é bom e seguro o suficiente para estadunidenses e não para africanos?)? continuar lendo

Ebola, Aids, Malária, Dengue, "Doença do Sono"...São patologias que atingem a população africana e, ao meu ver, tudo é fruto do descaso das "Autoridades de Saúde Pública"...
Grandes laboratório não possuem interesse na descoberta de vacinas e tratamentos e o povo morre no abandono!
Havia uma grande multinacional que tinha um projeto...E dai? Fez o que? Aparentemente NADA! Ou algumas coisas teriam mudado... continuar lendo

Gente, a livre-iniciativa é garantida constitucionalmente. Quem quiser abrir um laboratório farmacêutico movido por pura bondade no coração, com vias a criar curas para todos os males, e cedê-las gratuitamente, fique à vontade. continuar lendo

concordo, mas vejo esse tipo de perversão moral como a erva daninha da sociedade mundial, não sou cego, sei que essa é a realidade, mas ainda sim é muito triste saber que o mundo funciona nesses termos. continuar lendo

Andre, a indústria farmacêutica é um negócio. Quem investe quer lucro. A regra é clara. Há escolas particulares filantrópicas e direcionadas ao lucro; que tal uma indústria farmacêutica filantrópica? Alguém se interessa pelo prospecto de salvar milhões de vidas? Senhoras? Senhores? Dou-lhe uma... alguém?

Me preocupo muito mais com quem investe em carreira política, onde a regra não é clara e os propósitos não são abertos. continuar lendo