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26 de Abril de 2024

Alunas denunciam estupros em festas da Medicina da USP

Universitárias narraram abordagens em audiência pública; inquérito foi instaurado e MP solicitou informações à Fmusp há dois meses

Publicado por A. K.
há 9 anos

SÃO PAULO - Duas alunas da Faculdade de Medicina da USP (Fmusp) relataram nesta terça-feira, 11, publicamente estupros sofridos em festas promovidas por alunos da instituição na capital. Os depoimentos foram feitos em audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que teve como objetivo denunciar casos de violência sexual na Fmusp e a existência de uma “cultura machista” nos trotes praticados contra calouros.

Foi a primeira vez que as alunas falaram sobre os episódios em público - depoimentos sobre os casos já haviam sido feitos anonimamente. Uma estudante do 4.ºano, de 24 anos, afirmou que sofreu dois estupros em 2011 em festas organizadas pela Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC). A jovem, que preferiu não ser identificada, integra o grupo feminista Geni, que luta pelos direitos das mulheres.

Alunas denunciam estupros em festas da Medicina da USP

As jovens. Segundo elas, nenhum dos casos foi apurado

Um dos episódios, segundo ela, aconteceu na semana de inserção de calouros. No fim da festa, ela foi abordada por um rapaz, que disse que a acompanharia, por estar embriagada. “Fui puxada para uma sala de materiais escura. Ele começou a me agarrar, tentar me beijar e abaixou minha calça.”

A jovem disse que, na época, preferiu não levar o caso adiante e não contou o que aconteceu a ninguém. “Eu me senti muito silenciada ao longo desses quase quatro anos que estou na faculdade”, afirmou.

Outro episódio aconteceu na festa Carecas no Bosque, também em 2011, que foi feita em uma área de propriedade da USP. A universitária estava na festa com o atual namorado. De madrugada, foi a uma barraca onde eram oferecidas bebidas alcoólicas e adormeceu. Foi quando um funcionário terceirizado da festa entrou na barraca e a estuprou. “Eu estava desacordada. Descobri que o funcionário conseguiu entrar na barraca porque ele deu dinheiro para os seguranças.” O episódio foi visto por um amigo, que expulsou o rapaz e contou a ela o que tinha acontecido.

Outra estudante, que também preferiu não ser identificada, contou que sofreu estupro na festa Cervejada, em 2013, organizada pelos estudantes de Medicina. Ela disse ter sido abordada por dois alunos, do 4.º e do 5.º ano, que a chamaram para beber no carro de um deles. Quando a jovem foi até o local, disse ter sido agarrada. “Passaram a mão nas minhas partes íntimas. Eu gritei para que parassem e continuaram.”

Sem apuração. A reclamação das estudantes é de que nenhum dos casos foi apurado e, ao fazer as denúncias, há perseguição dos alunos, que não acreditam nas histórias. De acordo com os estudantes de Medicina ouvidos na audiência pública, a violência sexual é “internalizada” na cultura da Fmusp logo no primeiro ano.

A aluna Ana Luísa Cunha, do grupo Geni, relatou a forma como os trotes são feitos. “Eles separam as meninas dos meninos, colocam elas sentadas no chão e formam uma roda em volta, em pé.” Na sequência, os rapazes - na maioria, veteranos - entoam um hino que faz apologia ao estupro. “Muitas delas falam que ficam com muito medo”, disse a estudante.

Inquérito. O Ministério Público Estadual solicitou à Fmusp, há dois meses, informações sobre casos de trotes violentos e violação de direitos humanos em festas. Um inquérito foi instaurado no fim de agosto pela promotora Paula Figueiredo Silva, depois de receber denúncias de estudantes. “Queremos fortalecer os mecanismos de apuração da repressão. A universidade não deve apenas dar o ensino técnico, mas formar o cidadão”, disse a promotora na audiência pública.

A AAAOC informou que ainda está se organizando para comentar as declarações das estudantes. Ao fim da reunião, a reportagem procurou a Fmusp, que não respondeu sobre o caso até as 21 horas desta terça.


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17 Comentários

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Geralmente nos curso de Medicina e de Direito existe muita violência (psicológica, emocional e física) dos Veterandos contra os Calouros. PENSAM QUE SÃO DEUSES (isso mesmo, no gênero masculino). São cursos tradicionais e machistas!
Isso é institucionalizado no Brasil e oxalá no mundo, por exemplo EUA.
No universo machista parece ser habitual a pratica das ditas violências acima.
Casos de estupro não são isolados.
Estudei na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e o mesmo aparentemente aconteceu e acontece aqui e acolá (pois já ouvi vários relatos sobre). Infelizmente, por se tratar de crime contra a honra (muitas das vítimas) ficam silentes.
Por fim, acompanho de perto os acontecimentos promovidos pelo Centro Acadêmico da UEL, a partir de 2012: a conscientização e o dialógo aberto com as minorias (mulheres, negros, LGBT, etc.) tem sido frutíferos em DESMANTELAR práticas reiteradas de violências.

Vai parecer meio conservador: a mim parece que Universidade é local de estudo. As festas que ocorram fora das Universidade, preferencialmente sem a intervenção ou patrocínio e aval das Universidades. Digo isso porque geralmente são so Centro Acadêmicos que promovem essas "festas".

P.S1.: O "dinheiro" investido nas Universidades Públicas é do Povo.
Financiar o machismo e as "festas" significa institucionalizar/permitir o machismo e violências perpetrados.

Até 2001 as festas aconteciam dentro do Campus da UEL. A partir de então não se permitiu mais.
Andou bem a Administração da UEL.

P.S2.: Nunca fui à uma cerveja e outras festas de Direito, tampouco participei e permiti a violência dos "trotes" contra mim. No "primeiro dia de aula" os veteranos quiseram me obrigar a raspar a cabeça e a dar dinheiro para as "festas". ME NEGUEI VEEMENTEMENTE EM AMBOS OS CASOS! continuar lendo

Falou tudo, Eduardo..... voce participa se quiser.... também quiseram passar trote em mim quando ingressei na Faculdade, mas o barulho era outro e eles preferiam deixar pra lá....... dei a opção pra eles....podem zuar, mas um de voces ou vai pra UTI ou pode chamar o rabecão....... continuar lendo

se os novos doutores ja estao completamente doente o que esperar da medicina continuar lendo

Até acredito que possa haver estupros nessas universidades, o que eu repudio com veemência inclusive esses trotes com ''calouros'', mas eu pergunto, por que essas meninas ficam bêbadas e inconscientes numa festa de faculdade?? Dá brecha para esses maníacos agirem, pois eu simplesmente vou a festas, bebo, porém Deus me livre ficar inconsciente para deixar um homem me abusar. E outra ninguém é obrigado a comparecer nestas festas. Faz assim terminou a aula vai para a casa estudar ao invés de ficar indo em festas e beber até cair em coma alcoólico. continuar lendo

Lembre-se do "Boa Noite Cinderela"... o fato da bebedeira dificilmente apaga alguém a ponto de não lembrar pelo menos do que aconteceu. Em geral a covardia é tanta que usam drogas. Ninguém com mais acesso a isso que nessas faculdades.
O que pode se esperar desses "futuros" profissionais??? continuar lendo

Quer dizer que pra coibir estupros temos que ficar trancadas em casa, deixando de se divertir com os amigos?
Fala extremamente machista essa sua!
Todas as mulheres tem o direito de sair e se embebedar o quanto quiserem, isso não dá brecha para terem seus corpos violados. continuar lendo

Ué? E por que o homem pode ir às festas e encher a cara tranquilo? No máximo vai ter um amigo que vai aprontar alguma coisa e o caso vai virar "resenha" no outro dia.

http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/de-bebado-tem-dono-sim-diz-monografia-sobre-estupro-de-mulheres-embriagadas-10642263 - C* de bêbado tem dono, sim!. Diz monografia sobre estupro de mulheres embriagadas.

Mulheres de todo o mundo, embriagai-vos. Homens de todo o mundo, respeite-as. continuar lendo

o problema fernanda é que as mulheres confundem igualdade de direitos com igualdade fisiológica , ou seja ;se acham exatamente iguais aos homens em tudo e não são. as mulheres são mais frágeis , delicadas e têem que se prevenir afinal de contas somos os ANIMAIS mais perigosos do planeta. Por favor , não interpretem mal meu comentário . continuar lendo

Débora acho que não sabe interpretar textos, em momento algum disse para as mulheres ficarem em casas trancadas, só disse que ninguém deve beber a ponto de ficar inconsciente, até por que não fosse estrupo, poderia ser roubo, poderia ser um simples ''trote'' dos amigos.. E o que eu digo vale para homens e mulheres, beber e se divertir com amigos é muito bom, mas daí perder os sentidos é burrice viu. continuar lendo

Um bandos de escrotos, bem nesse termo mesmo! São futuros médicos que, futuramente, poderão abusar de suas pacientes e retornarem aos seus lares, possivelmente com família constituída, e promoverem a figura de bom pai, bom marido, exemplo de pessoa e de cidadão. Esses ignorantes e doentes, precisam ser presos e tratados! Mas isso no Brasil, haha, JAMAIS! Porque juiz é DEUS e médico também! continuar lendo